Há
algumas semanas procurava gérberas pelas floriculturas e barracas do Rio. Tinha
ido em um dia difícil e já no final da tarde
não encontraria... Até que vejo uma floricultura de esquina com duas senhoras
muito simpáticas e atenciosas. Pergunto se tem gérberas e uma delas me diz:
“ih, minha filha... gérberas lá pra quinta feira, mas tenho rosas e essas não
tem espinho.”
Elas foram tão doces em atender e embalaram
com todo carinho que eu passaria o final do dia com elas. Uma delas já com a vista debilitada procurava
fitas para amarrar as flores, papel de seda e cortava algumas folhas para
“ornarem” melhor. Reparo nas mãos da
senhora que passou a me atender, mãos marcadas pelo tempo e semelhantes as da
minha avó. Passaria a vida escrevendo sobre a minha avó e um mundo de coisas e
da saudade enorme que sinto ao lembrá-la.
As
mãos da minha avó também ornaram algumas flores, lidaram com espinhos e fizeram
as melhores receitas que alguém poderia imaginar... Bolinhos de chuva, tortas,
pudins... Escrevia com os dedinhos miúdos em um caderno tilibra que tenho
guardado até hoje. Caderno esse que quando não tinha mais páginas ela dava um
jeito de escrever em uma folha e depois grampear as receitas.
Nesse
caderno tinham telefones anotados, número do fornecedor do gás, do supermercado,
da padaria e cálculos com as letrinhas miúdas com quase todo orçamento da casa
anotado. Era “enfeitado” do jeito dela, com todo amor e
simplicidade que as avós têm.
As
mãos da minha avó me ensinaram muitas coisas, tais como “lavar, secar e
guardar”, pendurar a roupa do lado certo no varal, mas quanto a preparar comidas
deliciosas... Era com ela mesma!
Mãos
que eu adorava esticar a pele para saber quanto tempo duraria para a fina pele
esticada voltar para o lugar. Mãos que me faziam escrever poemas ao
lembrá-la, que teciam desejos de uma menina que observava o mundo e que se
questionava um milhão de coisas.
Mãos que me acalmavam e nutriam esperanças
dentro de mim. Sempre me emociono ao
lembrar que foram essas mãos que ensinaram meus tios a contar com grãos de
feijão. Sim, aqueles grãos que preparamos nosso delicioso feijão com arroz,
alimento diário e necessário. Mãos que
alimentavam sonhos, despertavam lembranças e floresciam meus dias.
E
esse texto é dedicado a ela, minha amada avó.
Nenhum comentário:
Postar um comentário