27 de nov. de 2014

por Larissa Lopes



Há algumas semanas procurava gérberas pelas floriculturas e barracas do Rio. Tinha ido em  um dia difícil e já no final da tarde não encontraria... Até que vejo uma floricultura de esquina com duas senhoras muito simpáticas e atenciosas. Pergunto se tem gérberas e uma delas me diz: “ih, minha filha... gérberas lá pra quinta feira, mas tenho rosas e essas não tem espinho.”




 Elas foram tão doces em atender e embalaram com todo carinho que eu passaria o final do dia com elas.  Uma delas já com a vista debilitada procurava fitas para amarrar as flores, papel de seda e cortava algumas folhas para “ornarem” melhor.  Reparo nas mãos da senhora que passou a me atender, mãos marcadas pelo tempo e semelhantes as da minha avó. Passaria a vida escrevendo sobre a minha avó e um mundo de coisas e da saudade enorme que sinto ao lembrá-la.

As mãos da minha avó também ornaram algumas flores, lidaram com espinhos e fizeram as melhores receitas que alguém poderia imaginar... Bolinhos de chuva, tortas, pudins... Escrevia com os dedinhos miúdos em um caderno tilibra que tenho guardado até hoje. Caderno esse que quando não tinha mais páginas ela dava um jeito de escrever em uma folha e depois grampear as receitas.

Nesse caderno tinham telefones anotados, número do fornecedor do gás, do supermercado, da padaria e cálculos com as letrinhas miúdas com quase todo orçamento da casa anotado.   Era “enfeitado” do jeito dela, com todo amor e simplicidade que as avós têm. 

As mãos da minha avó me ensinaram muitas coisas, tais como “lavar, secar e guardar”, pendurar a roupa do lado certo no varal, mas quanto a preparar comidas deliciosas...  Era com ela mesma!
Mãos que eu adorava esticar a pele para saber quanto tempo duraria para a fina pele esticada voltar para o lugar.   Mãos que me faziam escrever poemas ao lembrá-la, que teciam desejos de uma menina que observava o mundo e que se questionava um milhão de coisas.

 Mãos que me acalmavam e nutriam esperanças dentro de mim.  Sempre me emociono ao lembrar que foram essas mãos que ensinaram meus tios a contar com grãos de feijão. Sim, aqueles grãos que preparamos nosso delicioso feijão com arroz, alimento diário e necessário.  Mãos que alimentavam sonhos, despertavam lembranças e floresciam meus dias.
E esse texto é dedicado a ela, minha amada avó.

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