... com Lola: Histórias sobre cores e crianças

Aproveitando essa semana que muita gente tá lembrando que um dia foi criança, vamos contar histórias de outras crianças. Crianças que passaram por nós, nem sempre com uma história feliz na sua bagagem, mas que com certeza vivenciaram um momento colorido com o Projeto Brincando ...com Lola.

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Quando estivemos com ela, ela estava com seis anos. Uma menina linda, com olhos que nos faziam suspirar. Silenciosa e ao mesmo tempo uma líder do grupo. Ela tem câncer e por conta de normas do Hospital, não pudemos saber qual era o tipo.

Sua Lola dormia...

Sua Vó ganhou o Dôdu, que se tornou um gato amarelo! Durante a história, ela se envolveu, interagiu e participou sempre de forma doce e afetuosa.

Depois de desenhar na sua boneca, ela fez o desenho no papel; sua Lola e o Dôdu da sua Vó deitados e dormindo tranquilamente num quarto.

Toda beleza dessa história para nós, está nessa janela aberta, nessa cama que lembra o formato de um coração anatômico, na serenidade do sono. Da janela, podemos perceber uma noite agradável, num ambiente aconchegante, com grama, lua e estrela.

E a janela está aberta. Quem dorme de janela aberta, no nível do chão?

Só quem está em plena confiança de onde vive e em segurança do que está fazendo.

Aconchego, segurança e serenidade.

Ela não quis me dar o seu desenho. Era dela. Mas pelo menos me deixou tirar uma foto.

Foto que está impressa no nosso mural. Foto que enchem nossos corações de alegria por saber que por um instante, mesmo que por uma manhã, uma menina de seis anos, se sentiu segura com o que estava fazendo e com a Lola do seu lado.

Muito amor em uma foto.

Semana da criança é toda semana. Dia de cuidar de criança é todo dia.

O Projeto Brincando ...com Lola já levou cor e alegria para mais de 500 crianças e, mais do que isso, nos trouxe amor, experiências e um monte de histórias pra contar.

O Projeto funciona assim: para cada venda, doamos uma Lola ou Dôdu para uma criança e fazemos uma ação de arteterapia vivencial com elas. Essa criança tem que estar numa instituição, que pode ser escola, hospital, creche, orfanato, abrigo, etc. Chegamos nas instituições através de indicações de amigos e clientes e o processo de seleção é feito pela quantidade de bonecos disponíveis x necessidade do local.

Dentro de uma mala antiga, uma história mágica que foi cuidadosamente elaborada por nós para despertar ao máximo a imaginação das crianças (e adultos) que nos cercam. Em seguida, cada criança escolhe se quer a Lola ou o Dôdu e vários potinhos com canetas para tecido são colocados à disposição. E aí, como numa história de contos infantis, ou mesmo na mágica, o silêncio se faz. Em poucas ocasiões não vivenciamos o silêncio.

Junto com esse silêncio, vem um momento de entrega total, de dedicação, de se revigorar. O boneco se torna seu espelho e enquanto a criança desenha no boneco, desenha em si mesma. Quando ela cuida do boneco, cuida de si mesma. Essa oportunidade torna o afeto possível e com isso um contato com suas questões íntimas. A ação não precisa ser verbalizada. Algumas crianças contam histórias, pedem para falar, cantam, disputam a cor da caneta e tudo isso faz parte.

Muitas cores e possibilidades.

As crianças também recebem um quadrado de tecido, que é a “cobertinha”. Essa cobertinha é peça fundamental para o trabalho da maternagem, que possibilita uma relação calorosa, mesmo no simbólico, entre a criança e a sua imagem de ‘mãe boa’.

Nesse momento, os bonecos deixam de ser Lolas e Dôdus. Eu sempre pergunto para as crianças como chama o seu boneco; alguns permanecem Lola e Dôdu, mas na grande maioria a boneca ou o gato recebem o nome ou apelido da criança que o fez. Lembra da história do espelho? Muito bom, não é?

Maternagem

Depois de tudo isso, entregamos papel em branco para quem quiser e peço que as crianças desenhem onde está a sua boneca ou gato. E é nesse desenho que ela nos dá muitos indícios sobre suas emoções, experiências, necessidades e como a Lola (ou Dôdu) ‘aconteceu’ para ela.