9 de nov. de 2015

Chegou a minha mãe! Chegou a minha mãe!




Dizem que a gente nasce sabendo o que vai ser, eu sempre soube que seria mãe, sempre desejei ser mãe, o que eu não imaginava, é que seria algo tão TRANSFORMADOR na minha vida. Aconteceu quando tinha que acontecer, no tempo, na hora certa, na melhor hora. Depois de algumas tentativas de engravidar naturalmente e mais três vezes por fertilização in vitro, duas perdas, muita ansiedade, muitas esperas, muito choro e de muito brigar com Deus, passei a entender que sim, eu seria mãe, mas de outro jeito, por outra via.  






Tanta coisa aconteceu no meio disso tudo, tive que aprender a lidar com tantos sentimentos, alguns nunca antes vividos. Palavras foram proferidas como se fossem promessas, e hoje de nada valem, ou melhor, me ensinaram que algumas coisas que a gente diz não passam de nuvens que a ventania e o tempo sopram pra bem longe. Pois bem, depois de um “vendaval” decidimos, eu e meu marido, que iríamos adotar nossos filhos. Fizemos todo o processo, cabe aqui dizer que nada é fácil nesse percurso, muita burocracia, falta de bom senso por parte do judiciário, entre outras coisas que fazem a gente quase desistir. Mas apesar de tudo, não desistimos, pois sabíamos, e quando afirmo isso, é porque realmente SABÍAMOS que algo muito especial esperava por nós. 


Depois de quase três anos na fila da adoção, de repente, quando estávamos viajando, numa sexta-feira a noite, atendi ao telefone e: “... vocês podem vir conhecer duas crianças, dois irmãos na segunda-feira?” Foi isso que falaram, mas eu ouvi assim: NASCERAM, SEUS FILHOS NASCERAM, VOCÊS PODEM VIR BUSCÁ-LOS! Acertamos as coisas e ficou combinado que lá estaríamos, sem falta, sem atraso, sem adiar um  minuto se quer da hora marcada. E foi assim que recebemos a mais linda das notícias. Meu desejo de ser mãe estava se realizando de fato, era concreto e tão perto... Mal conseguia explicar para meu marido o que a assistente social tinha me falado ao telefone, eu era uma mistura de riso e choro, de felicidade e emoção, lembro que eu lhe dizia: “são dois, são dois, uma menina e um menino...” 


Já pelo telefone fiquei sabendo que a menina era a mesma que eu havia conhecido em um abrigo há quase nove meses atrás, o tempo de uma gestação. Eu e uma amiga tínhamos ido visitar esse abrigo na Páscoa de 2012, entre tantas crianças uma menina de dois anos e nove meses que havia acabado de chegar me encantou, ela estava assustada, arisca e triste, como não estar assim? Tinha sido retirada de seus pais há algumas horas atrás, sua “mãe” tinha ido para o hospital dar a luz a um menino, seu mano, com apenas seis meses de gestação e ela ali... Lembro dela sentada num cantinho, com um olhar dolorido, sem brilho. Mais tarde, ouvi um choro forte e fui ver o que era, pois era a menina chorando, pedi a uma das “tias” se podia pegá-la no colo, ela docemente me disse que sim que eu podia lhe dar a mamadeira, a peguei no colo, ela se aconchegou em meu ombro e lhe dei de mamar, (choro de felicidade ao escrever isso), minha amiga já me esperava no estacionamento, nós não sabíamos, mas eu estava dando de mamar para minha filha.


 Fui embora com a imagem daquela menina gravada na minha retina, na minha alma. Em casa contei tudo ao meu marido e ele me disse: “que nome lindo tem nossa filha.” Adormeci pensando nela e em seu irmão. Durante um tempo pensamos neles e os desejávamos tanto, o tempo passou, a vida seguiu e nós paramos de falar neles. Até que o telefonema, aquele que me referi anteriormente aconteceu.  Na segunda-feira, na hora marcada estávamos lá no abrigo para conhecê-los. Depois de conversarmos com os profissionais do local, foram buscar o menino. Quando ele entrou na sala que estávamos deu um sorriso, a coisa mais linda que meus olhos já tinham visto e foi pro colo do meu marido, depois veio pro meu colo e seu sorriso ficou tão largo que o bico que ele estava foi empurrado pra bem longe. 

Eu acabava de abrir os braços para o MEU FILHO, a primeira vez que eu o pegava no colo, ele era tão pequeno e já tinha quase nove meses de vida, havia nascido prematuramente, passado por uma cirurgia e quatro internações bem difíceis, apenas descrevo isso para que saibam da história, mas eu nem pensei em nada disso quando o tinha em meus braços, eu ali, naquele momento o AMEI, tão intensamente eu nem sei contar. Depois, acompanhados pela assistente social, fomos ver a menina que estava na Escolinha, chegamos lá e brincamos com ela, nunca vou esquecer dela penteando meu cabelos... Foi ali que o amor renasceu, pois já havia nascido há alguns meses atrás. Na hora de irmos embora, ela quis ir junto, a levamos para o abrigo e fomos embora pra casa, adivinhem... 

Chorando, rindo, falando demais sobre eles e na expectativa, pois ainda entrevistariam mais um casal, antes de nós foram entrevistados dezessete casais, nenhum deu certo por uma coisa ou outra, eles poderiam ter entrevistado mil e não daria, porque eles eram nossos filhos e conosco é que iriam embora dali. Na terça-feira o telefone de casa toca e do outro lado fala o Juiz da Infância e Juventude: “... vocês foram os escolhidos, podem vir busca-los amanhã às nove horas da manhã...” Eu quase não conseguia falar, chorava, tremia, andava de um lado para o outro, foi uma vida inteira em segundos, aos poucos fui me tornando MÃE. Liguei para o meu amor, o marido, e chorando lhe disse: AMANHÃ VAMOS BUSCAR NOSSOS FILHOS, ele chorava do outro lado. Quando ele chegou nosso abraço demorado e as lágrimas nos anunciavam: VOCÊS JÁ OS AMAM!

Ligamos para a família toda e amigos queridos, e a partir daí foi uma correria, montamos dois quartos em menos de 12 horas, roupinhas, brinquedos, fraldas, mamadeira... A gente queria recebê-los com algumas coisinhas. Eu fui dormir às 4 horas da manhã e acordei às 6 horas, dormir? Que nada! Ao acordarmos mal nos contínhamos de tanta felicidade, lembro de ter colocado um vestido longo, me maquiado e me arrumado para buscar meus filhos, acho que a gente faz isso quando vai fazer algo realmente importante. 


Nossa conversa no caminho era: do que será que nossa filha vai nos chamar: tio, tia? Como será que eles reagirão? Dúvidas e certezas se confundiam. Chegamos lá e nossa pequena nos esperava na porta, nunca, jamais, em tempo algum irei esquecer esse momento, ela correu para dentro gritando: “CHEGOU MINHA MÃE,
CHEGOU MINHA MÃE!” Eu quase morri, tive que me conter e ir ao seu encontro, nos abraçamos e eu pensava: PARI, ELA NASCEU! Ela estava linda com um vestido branco e amarelo (tenho ele guardado), já com as sacolas prontas para partir conosco... ela nos dizia: “Vamos pegar o mano, vamos pegar o meu mano!” E assim fizemos, ele era só sorrisos, estava tão lindo nosso anjo, o peguei no colo e pensei de novo: PARI, MEU FILHO NASCEU!



Fomos pra casa a FAMÍLIA toda e assim começou nossa melhor história, minha mais linda missão: SER MÃE! Faz quase três anos que eles estão conosco e o que eu posso dizer é que nunca na vida senti amor desse tamanho, dessa largura e dessa profundidade, Enzo e Raquel são os meus melhores sentimentos, o meu melhor lado, são a minha melhor história, a melhor parte de tudo o que já vivi!  

Rosane Castilhos

http://www.lojacomlola.com.br/pd-287e53-edicao-especial-dia-mundial-da-adocao.html?ct=&p=1&s=1

3 comentários:

  1. História maravilhosa, viva o amor! Obrigada por dividir conosco! Obrigada a Com Lola pela iniciativa!

    ResponderExcluir
  2. Conheço de perto, bem perto essa história... revivi cada sentimento ao escrevê-la para vocês e revivi agora relendo. Grata total pelo afeto, partilha e e respeito!!

    ResponderExcluir